31 de dez. de 2010

Passagem do Ano

(de Carlos Drummond de Andrade)

"O último dia do ano

Não é o último dia do tempo.

Outros dias virão

E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.

Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção,glória,
doce morte com sinfonia e
coral, que o tempo ficará repleto
e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,

uma mulher e seu pé, um corpo e sua memória um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco, e quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.

Teu pai morreu, teu avô também.

Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo.
Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão, esperas amanhecer."




BAUDATV | 29 dez. 2009

24 de dez. de 2010

POEMA DE NATAL

(Vinicius de Moraes)

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


ldgb2007 | 21 out. 2008 |

19 de dez. de 2010

13 de dez. de 2010

9 de dez. de 2010

4 de dez. de 2010

Eu vou...


Palavras perdidas ao vento

Sentimentos e pensamentos

A navegar

Num mar de incertezas

Que desafia a escuridão da noite

Sem direção

Eu vou

Em busca de mim

Do conhecimento perdido

Milenar

Moldando minha história

Mergulhando no tempo

No infinito

No cosmo

Acalentando a alma

Curando as feridas

Renascendo das cinzas

Sendo

Senhora de mim

Poema publicado no livros MULHERES (2010)