26 de jun. de 2011

18 de jun. de 2011

A ROUPA NOVA DO REI

Por Gustavo Mutran

Era uma vez um rei, tão exageradamente amigo de roupas novas, que nelas gostava todo o seu dinheiro. Ele não se preocupava com seus soldados, com o teatro ou com os passeios pela floreta, a não ser para exibir roupas novas. Para cada hora do dia, tinha uma roupa diferente. Em vez de o povo dizer, como de costume, com relação a outro rei: “Ele está em seu gabinete de trabalho”, dizia “Ele está no seu quarto de vestir.”

Assim começa o conto “A roupa nova do Rei” de Hans Christian Andersen, escritor dinamarquês de contos e fábulas infantis. Sua contribuição para a literatura infanto-juvenil é importantíssima e, graças a ela, a data de seu nascimento, 2 de abril, é o Dia Internacional do Livro Infanto-juvenil. Além disso, o mais importante prêmio internacional do gênero, O Prêmio Hans Christian Andersen, tem seu nome.

Pois bem, quer me parecer que, antigamente, os homens gostavam de lições morais em livros, anedotas, contos e peças teatrais, vide o clássico “O Conde de Monte Cristo”, de A. Dumas, onde o sofrimento atroz e inocente do personagem título o conduz a uma incrível jornada de autoconhecimento e superação.

Andersen, em “A roupa nova do rei”, não deixa por menos.

Eis que dois alfaiates estrangeiros chegam ao reino do tal rei do título e, rapidamente, espalham aos quatro cantos que são capazes de criar peças em padrões fora do comum, onde o estado de arte de sua criação era o incrível tecido invisível.

Como era de esperar, o rei, sempre negligente com seu povo, logo manda chamar os embusteiros. Fascinado com a lábia dos estrangeiros, apressa-se em encomendar uma peça de roupa soberba com o tal tecido invisível. Para tal empreendimento não pouparia esforços, esvaziou os cofres reais em favor da labuta dos ilustres visitantes:

Os embusteiros pediram mais dinheiro, mais seda e ouro para prosseguir o trabalho. Puseram tudo em suas bolsas. Nem um fiapo foi posto nos teares, e continuaram fingindo que teciam. Algum tempo depois, o rei enviou outro fiel oficial para olhar o andamento do trabalho e saber se ficaria pronto em breve. A mesma coisa lhe aconteceu: olhou, tornou a olhar, mas só via os teares vazios.

- Não é lindo o tecido? Indagaram os tecelões, e deram-lhe as mais variadas explicações sobre o padrão e as cores.

Eu penso que não sou um tolo, refletiu o homem. Se assim fosse, eu não estaria à altura do cargo que ocupo. Que coisa estranha!!”... Pôs-se então a elogiar as cores e o desenho do tecido e, depois, disse ao rei: “É uma verdadeira maravilha!!

Andersen, com este conto, pinta um quadro onde é evidenciada uma situação extrema de orgulho e vaidade. Até onde tais fraquezas morais podem nos conduzir?
A apoteose do conto é o desfile do rei, inteiramente vestido do tecido invisível, ou seja, nu em meio à corte. Apenas uma criança tem coragem de dizer na multidão: “ O rei está nu!”
Das várias facetas morais do conto, podemos pensar em como é barato tirar vantagem da vaidade alheia, pois o enriquecimento relâmpago dos alfaiates trambiqueiros foi feito a custo zero. Bastou a palavra, o verbo, para incendiar o desejo do rei de ser ainda maior e mais vistoso do que os demais.

Além disto, o conto nos fala sobre a relação com o poder. Vemos que a atitude do monarca jamais é questionada, não existem limites ao ego do rei. Sua cegueira é aguda e a submissão e omissão de seus subordinados também. Ninguém quer ser tolo em não enxergar algo tão esplêndido ou pior, ninguém quer perder seu emprego!
O rei nu faz mal aos seus súbitos com sua negligência. Não se trata apenas de posar de ridículo, mas sim de deixar de fazer melhorias significativas por causa da vaidade.
Vemos e ouvimos falar de reis nus todos os dias. Por vezes, somos os próprios personagens centrais dos contos da cegueira coletiva.

Gustavo Mutran é pintor, designer digital e colaborador do Jornal Pôr do Sol.
http://gustavomutran.com

12 de jun. de 2011

Virginia Woolf

"As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural."

"Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial."


"Cada um tem o seu passado fechado em si, tal como um livro que se conhece de cor, livro de que os amigos apenas levam o título."

"O efeito da morte sobre aqueles que continuam vivos é sempre estranho, e muitas vezes terrível, pela destruição de desejos inocentes."


"Que a mim pois seja dado saborear o momento,
antes que ele se propague pelo restante do mundo!
"

"A verdade é que eu sempre gosto das mulheres. Gosto da falta de convencionalismo delas. Gosto da integridade delas. Gosto do anonimato delas."

"Como mulher eu não possuo país. Como mulher, meu país é o mundo todo."

"Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas."

"De tudo que existe, nada é tão estranho como as relações humanas,
com suas mudanças, sua extraordinária irracionalidade."

"Estas são as mudanças da alma. Eu não acredito em envelhecimento.
Eu acredito em alterar para sempre o aspecto de alguém para a luz. Eis meu otimismo."

"Esta alma, ou vida dentro de nós, sem opção concorda com a vida exterior. Se alguém tiver a coragem de perguntá-la o que pensa, ela está sempre dizendo exatamente o oposto do que as outras pessoas dizem."

"Podemos ajudá-los melhor a prevenir a guerra não repetindo suas palavras e seguindo seus métodos mas encontrando novas palavras e criando novos métodos. "

"Para aproveitarmos a liberdade temos que nos controlar. "



Estreou na literatura em 1915 com um romance (The Voyage Out) e posteriormente teria realizado uma série de obras notáveis, as quais lhe valeriam o título de "a Proust inglesa". Faleceu em 1941, tendo cometido suicídio.

Virginia Woolf era filha do editor Leslie Stephen, o qual deu-lhe uma educação esmerada, de forma que a jovem teria frequentado desde cedo o mundo literário.

Em 1912, casou-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot. Virginia Woolf apresentava crises depressivas. Em 1941, deixou um bilhete para seu marido, Leonard Woolf, e para a irmã, Vanessa. Neste bilhete, ela se despede das pessoas que mais amara na vida, e comete suicídio.

Virginia Woolf foi integrante do grupo de Bloomsbury, círculo de intelectuais que, após a Primeira Guerra Mundial, se posicionaria contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana. Deste grupo participaram, dentre outros, os escritores Roger Fry e Duncan Grant; os historiadores e economistas Lytton Strachey e John Maynard Keynes; e os críticos Clive Bell e Desmond McCarthy.

A obra de Virginia é classificada como modernista. O fluxo de consciência foi uma de suas marcas mais conhecidas e da qual é considerada uma das criadoras.

Suas reflexões sobre a arte literária - da liberdade de criação ao prazer da leitura - baseadas em obras-primas de Conrad, Defoe, Dostoievski, Jane Austen, Joyce, Montaigne, Tolstoi, Tchekov, Sterne, entre outros clássicos, foram reunidos em dois volumes publicados pela Hogarth Press em 1925 e 1932 sob o título de The Common Reader - O Leitor Comum, homenagem explícita da autora àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para seu próprio desfrute pessoal. Uma seleta destes ensaios, reveladores da busca de Virginia Woolf por uma estética não só do texto mas de sua percepção, foi reunida em língua portuguesa em 2007 pela Graphia Editorial, com tradução de Luciana Viegas. Virginia Woolf editou outro livro também:"A Viúva eo papagaio" o qual não teve muito sucesso.
[editar] Obra

Sua primeira obra foi A viagem, publicada em 1915.

O romance Mrs. Dalloway ficou conhecido pelo filme As Horas, baseado na obra homônima de Michael Cunningham, filme no qual Virginia foi interpretada por Nicole Kidman, premiada com um Oscar por seu retrato da escritora britânica. As Horas conta várias histórias, mescla a vida da própria autora numa personagem e coloca algumas particularidades de Mrs. Dalloway numa dessas histórias. Em Mrs. Dalloway, Virginia descreve um único dia da personagem, quando ela prepara uma festa.

Sua obra mais conhecida é Orlando, publicada em 1928. É uma fantasia histórica sobre a era elisabetana.

Após terminar As Ondas, uma de suas obras mais importantes, Virginia Woolf estava exausta. Ela seguiu então para a sua casa de campo levando o livro das cartas entre os poetas Elizabeth Barrett e Robert Browning. Na leitura, percebeu a presença permanente de um cachorro, Flush; resolve então, por diversão, escrever a visão desse cachorro do mundo à sua volta. Essa obra foi muito elogiada por fazer um relato minucioso sobre a época dos poetas. Ironicamente foi a obra que mais deu retorno financeiro à escritora e a mais traduzida em outros idiomas.

A sua última obra foi "Entre os atos", publicada em 1941, posterior à sua morte.


No dia 28 de Março de 1941, após ter um colapso nervoso Virginia suicidou-se. Ela vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado no dia 18 de abril.

Em seu último bilhete para o marido, Leonardo Woolf, Virginia escreveu:

Querido, Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V.

Livros

* A viagem (The Voyage Out) (1915) * Noite e dia (Night and Day) (1919) * O quarto de Jacó (Jacob's Room) (1922) * Mrs. Dalloway (1925) * O Leitor Comum (The Common Reader) (1925 - Primeiro volume) * Rumo ao farol (To the Lighthouse) (1927) * Orlando - Uma biografia (Orlando: A Biography) (1928) * Um Teto Todo Seu (A Room of One's Own) (1929) * As ondas (The Waves) (1931) * O Leitor Comum (The Common Reader) (1932 - Segundo volume) * Flush (Flush: A Biography) (1933) * Os anos (The Years) (1937) * Roger Fry (1940) * Entre os atos (Between the Acts) (1941) * Contos Completos (1917-1941)

FONTE:
http://pensador.uol.com.br/autor/Virginia_Woolf/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Virginia_Woolf

6 de jun. de 2011

Queria poder...




Queria poder
Alçar voo rumo ao infinito
Ter a simplicidade das flores do campo
A sabedoria incontestável
De uma criança.
Queria poder
Resumir em uma linha
A magia da vida.
Vesti-me de sonhos
Mergulhar em mim
Recuperar a menina que fui.

Queria ter
A pureza dos anjos
A bravura dos heróis.
Atravessar o oceano
Cruzar o universo
Numa fração de segundo,
Recriar o nada.

Queria poder
Parar o tempo
Num breve instante apenas
Para tão somente
Contemplar a natureza
Infundi-me a ela
Lá permanecer infinitamente.

Queria poder
Ser melhor do que sou.
Tornar-me tempestade
A força do vento
O infinito
Ter a força de um titã.
Ser o silêncio
O nada.

Despi-me.
Ser pequenina

Ter a delicadeza das flores
A consciência do Criador.
Talvez então,
Pudesse compreender a essência da vida
Reaprender a amar.