3 de jul. de 2012

Programação FLIP 2012


Conheça os autores da 10a. FLIP  

ADONIS

Artista, erudito e crítico social combinam-se na figura de Adonis (Ali Ahmad Said Asbar). Nascido na Síria em 1930, ele emigrou para o Líbano em 1959, após passar um ano preso por atividades políticas, e em 1975 mudou-se por fim para Paris para escapar da guerra civil libanesa. O cosmopolitismo de seu olhar, no entanto, precede esses deslocamentos e caracteriza-se pela combinação de uma perspectiva moderna e secularista (na contramão do extremismo religioso) com uma ligação profunda com a cultura árabe. Reconhecido como o grande renovador da poesia árabe do século XX por explorar novos temas e recursos expressivos, Adonis é também autor de estudos e antologias inovadores e influentes, caso dos três volumes da Coleção de poesia árabe (1964), inéditos em português.

ALCIDES VILLAÇA
O crítico e poeta Alcides Villaça nasceu em 1946 em Atibaia (São Paulo) e, em 1973, tornou-se professor de literatura brasileira da Universidade de São Paulo, onde formou sucessivas gerações de estudiosos. Defendeu, também na USP, a dissertação de mestrado Consciência lírica em Drummond (1976) e a tese de doutorado A poesia de Ferreira Gullar (1984), ambas ainda inéditas. Publicou os livros de poesia O tempo e outros remorsos (1975) e Viagem de trem (1988) e, como crítico, lançou Passos de Drummond (2006), resultado de décadas de estudos da obra do escritor mineiro. Colaborador de algumas das mais importantes publicações brasileiras, como Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, Villaça é ainda autor de um livro infantojuvenil, O invisível (2011).

ALEJANDRO ZAMBRA

Alejandro Zambra nasceu em Santiago, Chile, em 1975, e é professor de literatura na Universidade Diego Portales. Teve seu primeiro e premiado romance, Bonsai(2006), adaptado para o cinema pelo diretor chileno Cristián Jiménez, e foi eleito pela revista britânica Granta (2010) um dos 22 melhores escritores de língua espanhola com até 35 anos. É ainda autor de dois livros de poesia, Bahía inútil (1998) e Mudanza (2008). Depois do sucesso de Bonsai, lançou mais dois romances, La vida privada de lós árbores (2007) e Formas de volver a casa(2011). Publicado no Chile e em outros países, o livro Não leia (2010) traz ensaios e crônicas do escritor selecionados pelo editor Andrew Braithwaite.

ALTAIR MARTINS
O gaúcho Altair Martins faz da dissolução um princípio de composição em livros como A parede no escuro (2008), pelo qual recebeu o Prêmio São Paulo, e Enquanto água (2011). Nascido em Porto Alegre em 1975, Martins é autor de uma obra marcada pelo sentimento de instabilidade e crise que caracteriza nossa época. O diálogo com o tempo presente, no entanto, passa longe da adesão a novidades de circunstância. É a própria forma da escrita que responde ao movimento acelerado da história. Se há um efeito libertador a ser notado nessas narrativas inquietas, que experimentam com ímpeto diferentes dicções e perspectivas (como se evitassem a sedimentação), esse deslocamento incessante da escrita produz também um efeito de vertigem e desorientação.

AMIN MAALOUF
Escritor e jornalista libanês, Amin Maalouf nasceu em 1949. De origem católica, frequentou os colégios jesuítas de Beirute, sua cidade natal, e, após a conclusão dos seus estudos em economia e sociologia, voltou-se ao jornalismo. Fugindo da onda de violência que assolou o Líbano, radicou-se em Paris em 1976. Escreveu, entre outros, O périplo de Baldassare (2000) e Jardins de luz (1991). Com o romance O rochedo de Tânios, publicado em 1993, recebeu o Goncourt, mais importante prêmio literário da França. Ao misturarem narrativa histórica, fantasia e divagação filosófica, seus livros dialogam com uma longa tradição literária. Grande parte da sua obra foi escrita numa cabana de pescador, numa ilha isolada do Canal da Mancha.

ANDRÉ DE LEONES
Intensidade emocional e apuro formal combinam-se na mais alta voltagem nos livros de André de Leones, como Hoje está um dia morto (2006), pelo qual recebeu o Prêmio Sesc de Literatura, ou o mais recente Dentes negros (2011). Nascido em 1980 na pequena Silvânia, em Goiás, André de Leones faz da clausura uma forma de potência. Sua escrita constrói mundos em estágio terminal e parece contaminar-se pelos dilemas existenciais que apresenta. Em vez de resolver conflitos, ela torna-se o prolongamento doloroso de um impasse. Mas, ainda que a força dos afetos possa assumir em sua obra um sentido quase alucinatório, isso não compromete o olhar incisivo do narrador nem o arranjo rigoroso de suas histórias, fatores que o destacam entre os autores brasileiros surgidos na última década.

ANTÔNIO CARLOS SECCHIN
Antonio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro em 1952. É poeta, crítico, professor titular de literatura brasileira da UFRJ e, desde 2004, membro da Academia Brasileira de Letras, em que ocupa a cadeira no 19. Publicou sete livros, entre os quais Poesia e desordem (1996) e João Cabral: a poesia do menos (1985), este último ganhador do Concurso Nacional de Ensaios (INL/MEC) e do Prêmio Sílvio Romero. Ensinou nas universidades de Bordeaux (1975-1979), Roma (1985), Rennes (1991), Mérida (1999), Nápoles (2007) e Paris Sorbonne (2009).

ANTÔNIO CÍCERO
Antonio Cicero nasceu no Rio de Janeiro em 1945. Filósofo e poeta, publicou dois livros de ensaios - O mundo desde o fim (1995) e Finalidades sem fim (2005) - e os livros de poemas Guardar (1996) e A cidade e os livros (2002). Nos anos 1990, coordenou os cursos de Estética e Teoria das Artes do Galpão do Museu de Arte Moderna (MAM-RJ). Em colaboração com Eucanaã Ferraz, editou a Nova antologia poética de Vinícius de Moraes (2003); e com Waly Salomão, organizou O relativismo enquanto visão do mundo (1994). Seus poemas figuram em importantes antologias, entre elas Os cem melhores poemas brasileiros do século 20 (2001), compilação proposta por Ítalo Moriconi. É autor de inúmeras e importantes letras de canção em parceria com Marina Lima, Adriana Calcanhotto e João Bosco, para citar alguns.

ARMANDO FREITAS FILHO
Poeta e ensaísta, Armando Freitas Filho (Rio de Janeiro, 1940) começou sua trajetória literária ligado à vanguarda da Poesia Praxis. Desde sua estreia com Palavra (1963), no entanto, já explorava uma forma própria de lidar com o verso, marcada por um diálogo intenso e original com a tradição moderna e, principalmente, com João Cabral e Drummond, a respeito de quem escreveria: “Drummond é Deus. Pai inalcançável. / Não reconhece os filhos. A mão ossuda / e dura, de unhas rachadas, não abençoa: / escreve, sem querer, contudo, a vida / de cada um, misturada com a sua.” Ganhador do Jabuti com 3 x 4 (1984) e do Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional por Fio terra (2000), Freitas Filho participa da Flip 2012 por meio de um depoimento gravado por Walter Carvalho.


CARLITO AZEVEDO
Desde sua estreia em 1991 com Collapsus linguae, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti, Carlito Azevedo vem construindo uma obra poética que figura entre as mais importantes da atual literatura brasileira. Por meio de um olhar afeito ao fugidio e ao inesperado, a vida urbana ganha em seus livros uma expressão nova. O conjunto já conhecido de seus personagens, espaços e situações assume aspectos inesperados, reorganizado por uma dicção que transita habilmente entre o prosaico e o erudito, o casual e o comovido. A recombinação pode ser uma forma de fazer surgir o novo, interesse que move também o trabalho de Carlito Azevedo como tradutor e editor (atividade que exerceu na revista Inimigo Rumor e na coleção Ás de Colete e, atualmente, na página mensal Risco, no jornal O Globo).

CARLOS DE BRITO E MELLO
Um narrador que se ocupa em registrar mortes nas cidades por que passa chega à casa de uma família que mantém o cadáver do pai insepulto, amarrado a uma cadeira na sala de jantar. A partir desse enredo de aparência lúgubre, Carlos de Brito e Mello construiu um dos mais inventivos romances da literatura brasileira recente, A passagem tensa dos corpos, livro finalista dos prêmios São Paulo, Jabuti e Portugal Telecom em 2010. A morte está também no centro de sua obra anterior, O cadáver ri dos seus despojos (2007). A referência comum aqui, declarada pelo escritor, são as reflexões do francês Maurice Blanchot sobre a relação entre morte e linguagem. Nascido em Belo Horizonte em 1974, Mello faz desse vínculo a força que impulsiona sua escrita.

DANY LAFERREIÈRE
Dany Laferrière é um dos principais renovadores da literatura haitiana. Nasceu em 1953 em Porto Príncipe e em 1976 exilou-se em Montreal, fugindo da ditadura de Baby Doc. Ali, trabalhou como operário e jornalista até publicar, em 1985, seu primeiro livro, Comment faire l'amour avec un nègre sans se fatiguer, adaptado para o cinema pelo diretor canadense Jacques Benoit. Com uma escrita que mistura episódios autobiográficos e narrativa ficcional, publicou, entre outros, Vers le Sud (2006) e L'énigme du retour (2009), que recebeu o prestigiado prêmio Médicis. A experiência do exílio serve em seus livros como ponto de partida para o exame das diferenças culturais e da reflexão sobre a relação entre língua, nacionalidade e identidade. No ano passado, País sem chapéu (1996) tornou-se seu primeiro título lançado no Brasil.

DULCE MARIA CARDOSO

Uma das mais premiadas escritoras da literatura portuguesa contemporânea, Dulce Maria Cardoso é autora de uma obra em que os conflitos humanos são examinados com lucidez e um sentimento que às vezes se aproxima do trágico. O interesse pelos detalhes, que dão expressão concreta aos desacertos das relações pessoais, conduz sua escrita com frequência pelo núcleo íntimo do convívio familiar. Esse estreitamento de foco, no entanto, não resulta numa crônica dos costumes privados. O que se observa de perto produz, de maneira inesperada, uma visão de conjunto sobre questões urgentes de nosso tempo. É o que se verifica no celebrado O retorno (2011), em que o regresso de uma família portuguesa a Lisboa após a independência de Angola mostra como detalhe e panorama se confundem.

ENRIQUE VILA-MATAS
Nascido em Barcelona em 1948, Enrique Vila-Matas estreou na ficção em 1973. De lá para cá, publicou 33 livros em mais de 30 países e tornou-se um dos grandes nomes da literatura contemporânea. Com uma ficção metalinguística, capaz de costurar referências constantes à literatura e sua história, Vila-Matas revela-se um narrador talentoso e um observador bem humorado dos absurdos humanos. Ao mesmo tempo “escritor de escritores” e autor amado por um público amplo, recebeu os prêmios Rómulo Gallegos e Cidade de Barcelona por seu romance A viagem vertical(2001), ao passo que Bartleby & Companhia (2003) foi consagrado na França com o prêmio Médicis. Em seu novo livro, Aire Dylan, lançado este ano no Brasil, parte do enredo transcorre no Mercado Municipal de São Paulo.

EUCANAÃ FERRAZ
Eucanaã Ferraz nasceu no Rio de Janeiro em 18 de maio de 1961. Poeta, pesquisador e professor de literatura brasileira da UFRJ, fez mestrado sobre Carlos Drummond de Andrade e doutorado sobre João Cabral de Mello Neto. Publicou os livros de poemas Cinemateca (2008), Rua do mundo (2004), Desassombro de 2002, vencedor do prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional) e Martelo (1997). Em 2010, coordenou a reedição ampliada de Uma pedra no meio do caminho - Biografia de um poema, livro que Drummond lançou em 1967, reunindo críticas e paródias de seus versos mais famosos. Ao lado de André Vallias, Ferraz é editor da Errática (www.erratica.com.br), revista on-line dedicada à poesia.

FABRÍCIO CARPINEJAR
Fabrício Carpinejar nasceu na cidade de Caxias do Sul (RS) em 1972 e é mestre em literatura brasileira pela UFRGS, poeta, cronista, professor e jornalista. Escritor performático e irreverente, foi escolhido pela revista Época como uma das 27 personalidades mais influentes na internet. Ganhou o reconhecimento do público com Caixa de sapatos, obra lançada em 2003. De lá para cá, escreveu 17 livros, entre eles Borralheira, Mulher perdigueira e Canalha!, este último vencedor do Prêmio Jabuti em 2009. Apresentador do programa A Máquina, na TV Gazeta, é colunista do jornal Zero Hora, comentarista da Rádio Gaúcha e colaborador em diversas publicações.

FERNANDO GABEIRA
Um dos fundadores do Partido Verde brasileiro, Fernando Gabeira (Juiz de Fora, Minas Gerais, 1941) é autor de livros de memórias, política e jornalismo literário. Sua participação na luta armada contra a ditadura, que o levou à prisão e em seguida ao exílio de 1970 a 1979, é narrada em O que é isso, companheiro? (1979), pelo qual ganhou o Prêmio Jabuti. Foi deputado federal por três mandatos e ficou em segundo lugar na disputa pelo governo do estado do Rio de Janeiro em 2010. No Congresso, defendeu causas como a legalização da maconha e a regulamentação da profissão de prostituta. Como jornalista, participou da mítica redação do Jornal do Brasil no começo dos anos 1960 e colaborou com algumas das principais publicações brasileiras, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Piauí.

FRANCISCO DANTAS
Um dos grandes autores brasileiros em atividade, o sergipano Francisco Dantas fez sua estreia na literatura aos 50 anos de idade, com Coivara da memória (1991). Logo conquistou a admiração de leitores como Benedito Nunes, José Paulo Paes e Alfredo Bosi, que, a propósito de seu livro seguinte, Os desvalidos (1993), resumiu assim o estilo do autor: “A sua prosa alcança o equilíbrio árduo entre a oralidade da tradição (…) e uma dicção empenhadamente literária que modula o fraseado clássico até os confins da maneira”. Sem perder de vista a espontaneidade da fala, a escrita exaustivamente trabalhada apresenta um universo de paixões próximas do registro mítico. O destino de seus personagens, porém, permanece ligado ao fio da história. É com esses elementos que Dantas compõe a trama cerrada de sua obra.

GARY SHTEYNGART
Nascido na antiga Leningrado, atual São Petersburgo, o judeu russo Gary Shteyngart migrou para Nova York aos sete anos e ali desenvolveu sua trajetória de escritor. Publicou O pícaro russo (nomeado livro do ano pelo Washington Post), Absurdistão e Uma história de amor real e supertriste, obras que têm na sátira e na ironia dois de seus elementos de predileção. Glutão e bem-humorado, já afirmou considerar-se não um intelectual, mas um “entertainer, como Eddie Murphy ou Condoleezza Rice”. Autor de ensaios nas revistas The New Yorker, Esquire e New York Times Magazine, completa 40 anos no dia 5 de julho, durante a Flip.

HANIF KUREISHI
Filho de mãe inglesa e pai paquistanês, Hanif Kureishi nasceu em Bromley, ao sul de Londres, em 1954. É dramaturgo, contista e roteirista, além de ter estudado filosofia no King's College. Escreveu o roteiro para Minha adorável lavanderia - ganhador de diversos prêmios e indicado ao Oscar em 1987 - e Sammy e Rosie, ambos dirigidos por Stephen Frears. Também escreveu e dirigiu London kills me, filme lançado em 1991. Seu primeiro romance, o aclamado O buda do subúrbio (1990), ganhou o Whitbread Award e foi adaptado para a televisão pela BBC. O livro já apresentava características centrais da obra subsequente de Kureishi, como a sátira social e a percepção das tensões identitárias da sociedade inglesa. Tem sete títulos publicados no Brasil, entre eles Intimidade (1998) e O corpo (2003).

IAN McEWAN
Nascido em 1948 em Aldershot, na Inglaterra, Ian McEwan iniciou sua trajetória literária em 1975 com a publicação do volume de contos First love, last rites. A combinação original entre narração irônica e enredos sombrios de seus primeiros livros, como O jardim de cimento (1978), logo chamou a atenção da crítica. Ganhador do Whitbread Novel Award por The child in time(1987) e do Man Booker Prize por Amsterdam (1998), McEwan experimentou enorme sucesso mundial com a publicação de Reparação (2001), cuja adaptação para o cinema teve sete indicações ao Oscar. Ao longo da última década, McEwan publicou uma série de romances que continuaram a expandir seu prestígio, como Sábado (2005) e Solar (2010), nos quais a descrição minuciosa da consciência associa-se ao exame de conflitos éticos e políticos.

JACKIE KAY
Uma aposta humanista na escrita como forma de compreensão do mundo e comunicação com o outro atravessa a vasta produção literária da premiada escritora escocesa Jackie Kay. Natural de Glasgow, filha de mãe escocesa e pai nigeriano, ela foi adotada por um casal branco ao nascer, em 1961. Os poemas de The adoption papers (1991), seu livro de estreia, têm por matéria algo dessa experiência pessoal, mas se descolam do registro biográfico em sua alternância de vozes e pontos de vista. Esse deslocamento de perspectivas, que põe sob suspeita a ideia de um relato objetivo, dá o tom também de seu primeiro romance, Trumpet (1998), ganhador do Guardian Fiction Award. Autora de peças, contos e histórias infantis, Kay narra o encontro com seu pai biológico em seu livro mais recente, Red Dust Road (2010).

JAMES SHAPIRO
Professor de literatura comparada na Universidade de Columbia, o americano James Shapiro (Nova York, 1955) é um dos maiores estudiosos mundiais da literatura inglesa do período elisabetano e, particularmente, da obra de William Shakespeare. Sua abordagem da obra shakespeareana caracteriza-se pelo exame cuidadoso das relações entre os textos do autor e a sociedade em que ele viveu, sem jamais reduzir, no entanto, a criação literária a um espelho de condições sociológicas. Colaborador regular de diversos jornais e revistas, entre eles o New York Times e o Financial Times, Shapiro recebeu em 2006 o Samuel Johnson Prize e o Theatre Book Prize por seu livro 1599: Um ano na vida de William Shakespeare (2005). Seu título mais recente é Contested Will: who wrote Shakespeare?(2010).

JAVIER CERCAS
Ao combinar em seus livros o relato histórico e a criação literária, o premiado escritor espanhol Javier Cercas (Ibahernando, Espanha, 1962) faz da mirada retrospectiva uma forma de interpelar o momento atual, levantando questões que outros gostariam de esquecer. É a capacidade de estabelecer conexões críticas com o passado, sem eliminar a medida de estranheza que o diferencia do presente, que confere uma força singular a obras como Soldados de Salamina (2001) e A velocidade da luz (2005). Ficcionista traduzido em mais de 20 países, é também professor de literatura e colaborador regular do El País. Publicou três volumes reunindo seus artigos e ensaios. Sua obra mais recente, Anatomia de um instante (2010), trata do golpe de Estado fracassado de 1981, na Espanha.

JEAN-MARIE GUSTAVE LE CLÉZIO

O interesse pela diferença e a desconfiança em relação às promessas civilizatórias europeias produzem uma oscilação tocante entre encanto e ceticismo na obra de J.M.G. Le Clézio, ganhador do Nobel de Literatura em 2008. Nascido em 1942 em Nice, na França, mas ligado pela família às Ilhas Maurício e à Nigéria (onde foi viver aos oito anos), Le Clézio faz do deslocamento uma figura literária de notável alcance crítico. Seu primeiro romance, Le Procés-Verbal (1963), recebeu o Prix Renaudot e foi finalista do Goncourt. A recusa à convenção, que ali se exprimia no interesse pela loucura, liga-se ao contato com outras culturas em livros seguintes, como Désert (1980) e Onitsha (1991). Le Clézio é ainda um ensaísta prolífico, que se dedica igualmente à crítica política e cultural.

JENNIFER EGAN

Um ímpeto experimental e reflexivo combina-se com um talento nato de contadora de histórias na obra de Jennifer Egan (Chicago, EUA, 1962). O arrojo da composição, que exprime um domínio meticuloso da forma, é acompanhado pela força imaginativa dos enredos, situações e personagens. A qualidade do resultado é atestada pelo entusiasmo da recepção crítica à obra da escritora, em particular a seu romance mais recente, A visita cruel do tempo (2010), ganhador de dois dos mais importantes prêmios literários americanos, o Pulitzer e o do National Book Critics Circle. Com suas várias histórias entrecruzadas, a obra foge às definições usuais do romance e do livro de contos. Além de ficção, Egan escreve textos de jornalismo e é uma colaboradora regular do New York Times.

JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA João Anzanello Carrascoza (Cravinhos, São Paulo, 1962) ocupa-se em sua obra de grupos sociais e registros afetivos pouco explorados na prosa brasileira das últimas décadas. Livros como O vaso azul (1998), Dias raros (2004) ou o mais recente Espinhos e alfinetes (2010) tomam por matéria a vida de uma certa classe média geralmente ignorada em nossa ficção. Ao se demorar no exame das relações familiares e de amizade desse universo, Carrascoza cria histórias que parecem querer recuperar do esquecimento um conjunto variado de experiências cotidianas às quais usualmente não damos atenção. Esse esforço de recuperação empreendido pela escrita se faz acompanhar em seus contos de um sentimento trágico diante da constatação da passagem do tempo e de sua combinação inevitável de perda e renovação.

JONATHAN FRANZEN
Um escritor que se interroga constantemente sobre o lugar da literatura na vida contemporânea, problema que discutiu da maneira mais eloquente em seu ensaio Perchance to dream (1996), Jonathan Franzen (Western Springs, EUA, 1959) viu na última década sua própria obra adquirir o tipo de centralidade cultural cada vez menos atribuída à escrita de ficção. A publicação de As correções (2001), pelo qual recebeu o National Book Award, foi seguida por uma combinação rara de consagração crítica e sucesso comercial. Nove anos se passaram até o lançamento de Liberdade (2010), cuja repercussão extrapolou todas as medidas usuais. Mesclando introspecção psicológica com a dramatização de impasses culturais mais amplos, Franzen consolidou-se como um intérprete incisivo dos dilemas da sociedade atual.

JUAN GABRIEL VASQUEZ

Nascido em Bogotá, Colômbia, em 1973, Juan Gabriel Vásquez é um dos jovens escritores latino-americanos de maior projeção internacional. Em 2004, estreou na literatura com Os informantes, amplamente elogiado pela mídia especializada. Foi vencedor do prêmio Qwerty de melhor romance espanhol por sua Historia secreta de Costaguana (2007) e do Prêmio Alfaguara de Novela por El ruido de las cosas al caer (2011). Colunista do jornal colombiano El Espectador, escreveu ainda uma biografia de Joseph Conrad (El hombre de ninguna parte, 2007) e traduziu obras de John Hersey, Victor Hugo e E. M. Forster.

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
Jornalista “do tempo em que não se precisava de diploma para exercer a profissão”, Luis Fernando Verissimo tem seu trabalho como cronista e cartunista publicado em jornais de todo o Brasil (O Estado de S.Paulo, O Globo e Zero Hora, para citar alguns). Escritor múltiplo, é romancista, roteirista, cronista, dramaturgo e tradutor. Publicou mais de 60 livros para crianças e para adultos, entre eles Em algum lugar do paraíso, Os espiões e Comédias da vida privada. Nascido em Porto Alegre, já morou na Califórnia, em Washington, em Nova York, em Roma e em Paris, e hoje vive no Rio de Janeiro. Toca saxofone e torce pelo Internacional, apaixonado que é por futebol.

LUIZ EDUARDO SOARES
Escritor e antropólogo, Luiz Eduardo Soares (Nova Friburgo, Rio de Janeiro, 1954) tem aproximado em seus livros os dois lados de sua formação, valendo-se de técnicas de narração literária para expor o funcionamento do mundo do crime e das estruturas da segurança pública brasileira, que ele vem explorando por meio de pesquisas, de entrevistas e da experiência profissional direta. Ex-secretário nacional de Segurança, ele narrou seus anos como secretário de Segurança do Rio de Janeiro no livro de memórias Meu casaco de general (2000). Escritos em colaboração com André Batista e Rodrigo Pimentel, seus livros Elite da tropa (2006) e Elite da tropa 2 (2010, este também com Claudio Ferraz) serviram de base para os filmes Tropa de elite 1 e 2. Sua obra mais recente é Tudo ou nada (2012).

PALOMA VIDAL
Paloma Vidal nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1975 e veio morar no Rio de Janeiro com dois anos de idade. Nos elogiados contos de A duas mãos (2003) e Mais ao sul (2008), a tematização da errância e um sentimento difuso de ausência ultrapassam as ressonâncias biográficas para se converterem num modo de investigação das próprias razões da escrita. Autora ainda de contos publicados nas antologias 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira (2004) e Paralelos (2004), publicou em 2010 seu primeiro romance, Algum lugar, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Além de ficcionista, Paloma Vidal é crítica, tradutora, professora de teoria literária e editora da revista Grumo, de literatura e cultura latino-americanas.

ROBERTO DA MATTA
O estudo pioneiro de rituais urbanos e a consideração dos contrastes entre tradição e modernidade são os dois fios que conduzem a reflexão original sobre a sociedade brasileira empreendida há mais de quatro décadas pelo antropólogo Roberto DaMatta (Niterói, Rio de Janeiro, 1936). Do clássico Carnavais, malandros e heróis (1979) ao mais recente Águias, burros e borboletas: um ensaio antropológico sobre o jogo do bicho (1999, em parceria com Elena Soárez), DaMatta pensa o Brasil e ao mesmo tempo contribui para a criação de novos campos de estudo ao dedicar-se a objetos ainda pouco mapeados academicamente. Professor da PUC-Rio e colunista de O Globo e O Estado de S. Paulo, DaMatta publicou em 2010 Fé em Deus e pé na tábua, sobre as relações entre público e privado no trânsito brasileiro.

RUBENS FIGUEIREDO
A obra de Rubens Figueiredo (Rio de Janeiro, 1956) é uma demonstração eloquente de que a força da literatura para iluminar e criticar a realidade não depende da adesão a nenhuma fórmula realista e muito menos da renúncia à imaginação. Livros como A festa do milênio (1986) e Contos de Pedro (2006) mostram que a expansão da fantasia pode ser um modo de aproximação dos conflitos de nosso tempo. Autor de romances e livros de contos, Figueiredo ganhou por duas vezes o Prêmio Jabuti - com As palavras secretas (1998) e Barco a seco (2001) - e recebeu mais recentemente os prêmios São Paulo e Portugal Telecom por Passageiro do fim do dia (2010). É também um dos mais importantes tradutores brasileiros, tendo vertido para o português obras de Tolstói e Turguêniev, entre outras.

SILVANO SANTIAGO
Exercendo o duplo ofício de crítico e escritor, Silviano Santiago (Formiga, Minas Gerais, 1936) contribuiu com seus livros para alguns dos mais importantes debates da cultura brasileira. Em ensaios como O entrelugar do discurso latino-americano (1971) ou o mais recente Uma literatura anfíbia (2002), Santiago pôs em questão os termos usuais da discussão sobre as relações entre escrita, nacionalidade e política em nosso país. Essa intervenção se estende a obras de ficção como Em liberdade (1981), pela qual ganhou o Prêmio Jabuti, ou Heranças (2008). Seus trabalhos de crítica literária participaram da renovação da compreensão da obra de Machado de Assis e de autores da geração modernista, em particular Carlos Drummond de Andrade. É colunista de O Estado de S. Paulo e professor emérito da UFF.

STEPHEN JAY GREENBLATT

Professor de literatura em Berkeley e Harvard, Stephen Greenblatt (Boston, EUA, 1943) é autor de obras que influenciaram de modo decisivo nas últimas décadas os estudos sobre William Shakespeare, a cultura do Renascimento e a disciplina de história literária como um todo. Criador do chamado novo historicismo, Greenblatt abriu em livros como Renaissance self-fashioning (1980) e Shakespearean negotiations (1989) novas possibilidades de compreensão da imbricação entre literatura e sociedade. Seu trabalho, porém, circula além do meio acadêmico, como se vê pelo sucesso de Como Shakespeare se tornou Shakespeare (2005), sua biografia do autor inglês que passou semanas na lista de mais vendidos do New York Times. Seu livro mais recente, A virada (2011), recebeu o Pulitzer e o National Book Award. 

SUKETU MEHTA

Professor de jornalismo na Universidade de Nova York (NYU), Suketu Mehta nasceu em Calcutá em 1963. Mudou-se ainda criança para Bombaim, de onde, em 1977, emigrou com a família para os Estados Unidos. Lançado no Brasil no ano passado, seu livro Bombaim: cidade máxima é o resultado de sua imersão no cotidiano de uma das cidades mais populosas do mundo. Para recuperar a cidade onde viveu sua infância, Mehta passeou entre religiosos, políticos, atores de cinema, milionários ou miseráveis recolhendo histórias. Os conflitos religiosos que marcaram a década de 1990 na cidade fornecem a pista inicial de uma série de deambulações urbanas, guiadas pela narrativa de personagens reais.

TEJU COLE

Filho de pais nigerianos e criado na Nigéria, Teju Cole (Kalamazoo, EUA, 1975) é fotógrafo, historiador e escritor, com dois elogiados livros de ficção: a novela Everyday is for the thief(2007) e o romance Cidade aberta (2011). Pelo segundo, Cole recebeu o prêmio PEN/Hemingway e uma indicação para o prêmio do National Book Critics Circle. Ao narrar a perambulação de um psiquiatra nigeriano-alemão por Nova York e pela Europa, a obra combina a descrição contemplativa da paisagem urbana com uma sucessão de episódios improváveis e reflexões sobre arte, filosofia e política. Atualmente, Cole trabalha num livro de não ficção sobre a maior cidade da Nigéria, Lagos. Além disso, uma exposição das fotografias de rua tiradas por ele está programada para o final do ano na Índia, e algumas podem ser vistas no site http://www.tejucole.com/.

ZOÉ VALDÉS

Zoé Valdés nasceu em Cuba em 1959, ano da revolução, mas se radicou em Paris na década de 1990 e ali se firmou como opositora contundente do regime de Fidel Castro. É autora de mais de uma dezena de romances, como o premiado O todo cotidiano, publicado no Brasil em 2011, e A eternidade do instante (2005), recém-lançado por aqui. Ao longo de sua carreira como escritora, recebeu, entre outros, os prêmios Liberatur Preis, Chevalier des Arts et des Lettres e o Premio de Novela Ciudad de Torrevieja. Entre 1984 e 1988, fez parte da Delegação de Cuba na Unesco, sempre debatendo a realidade sociopolítica de seu país. Em seu blog oficial, Valdés discute política, sociedade e literatura, com ênfase para a situação cubana.

ZUENIR VENTURA
Zuenir Ventura (1931) é escritor e jornalista há mais de quarenta anos. Nascido em Além Paraíba (MG), trabalhou nos principais veículos de comunicação do país, como os jornais O Globo e Jornal do Brasil e as revistas Visão, Fatos & Fotos, Veja e Época. Na UFRJ, foi aluno de Manuel Bandeira, com quem teve aulas de literatura hispano-americana. Com Cidade partida (1994), um retrato das tensões sociais e da dinâmica da violência no Rio, venceu o Prêmio Jabuti na categoria Reportagem. A reflexão sobre as desigualdades da cidade onde vive tem sido um eixo constante de seu trabalho. Em 2008, lançou 1968, o que fizemos de nós, que retoma uma de suas obras mais conhecidas, 1968, o ano que não terminou (de 1988, já na 38a edição). Cronista de O Globo, também escreveu o livro-reportagem Chico Mendes, crime e castigo (2003), entre outros títulos.
 

 PROGRAMAÇÃO

 DIA 04/07 - QUARTA-FEIRA

19h - Abertura
FLIP, ANO 10 - Luiz Fernando Veríssimo
DRUMMOND 110 - Antônio Cícero e Silviano Santiago
Local: Tenda dos Autores 21h - Show de AberturaCiranda de Tarituba, Lenine. Vencedor de cinco prêmios do Grammy Latino, o recifense Lenine é a atração principal do show de abertura da Flip 2012. O músico apresenta o show de sua turnê “Chão”, em que toca as músicas de seu novo trabalho e revisita grandes sucessos de sua carreira. Antes da apresentação de Lenine, as festas tradicionais de Paraty serão representadas na abertura da décima Flip pela Ciranda de Tarituba, fundada em 1975 e dedicada aos ritmos e danças da região.
Local: Tenda dos Autores

DIA 05/07 - QUINTA-FEIRA

10h - Mesa 1 - Escritas da finitude: Altair Martins, André de Leones e Carlos de Brito e Mello Mediação João Cezar de Castro Rocha
Local: Tenda dos Autores11h45 - Mesa Zé Kleber  A leitura no espaço público: Silvia Castrillon e Alexandre Pimentel Mediação Écio Salles
Local: Tenda dos Autores15h - Mesa 2 Apenas literatura: Enrique Vila Matas e Alejandro Zambra Mediação Paulo Roberto Pires
Local: Tenda dos Autores17h15 - Mesa 3 Ficção e história: Javier Cercas e Juan Gabriel Vásquez Mediação Ángel Gurría-Quintana
Local: Tenda dos Autores19h30 - Mesa 4 Autoritarismo, passado e presente: Luiz Eduardo Soares e Fernando Gabeira Mediação Zuenir Ventura
Locla: Tenda dos Autores

DIA 06/07 - SEXTA-FEIRA

10h - Mesa 5 Drummond - o poeta moderno: Antonio C. Secchin e Alcides Villaça Mediação Flávio Moura
Local: Tenda dos Autores12h - Mesa 6 O mundo de Shakespeare: Stephen Greenblatt e James Shapiro Mediação Cassiano Elek Machado
Local: Tenda dos Autores15h - Mesa 7 Exílio e flânerie: Teju Cole e Paloma Vidal Mediação João Paulo Cuenca
Local: Tenda dos Autores17h15 - Mesa 8 Literatura e liberdade: Adonis e Amin Maalouf Mediação Alexandra Lucas Coelho
Local: Tenda dos Autores19h30 - Mesa 9 Encontro com Jonathan FranzenMediação Ángel Gurría-Quintana Tenda dos Autores
Local: Tenda dos Autores

DIA 07/07 - SÁBADO

10h - Mesa 10 Cidade e democracia: Suketu Mehta e Roberto DaMatta Mediação Guilherme Wisnik
Local: Tenda dos Autores12h  - Mesa 11 Pelos olhos do outro: Ian McEwan e Jennifer Egan Mediação Arthur Dapieve
Local: Tenda dos Autores
15h - Mesa 12 Em família: Zuenir Ventura, Dulce Maria Cardoso e João Anzanello Carrascoza Mediação João Cezar de Castro Rocha
Local: Tenda dos Autores17h - Mesa 13 O avesso da pátria: Zoé Valdés e Dany Laferrière Mediação Alexandra Lucas Coelho
Local: Tenda dos Autores

21h30 - Mesa EXTRA - Quadrinhos para maiores: Angeli e Laerte Mediação Claudiney Ferreira
Local: Tenda dos Autores

DIA 08/07 - DOMINGO
10h - Mesa 15 Vidas em verso: Jackie Kay e Fabrício Carpinejar
Mediação João Paulo Cuenca
Local: Tenda dos Autores11h45 - Mesa 16 A imaginação engajada: Rubens Figueiredo e Francisco Dantas Mediação João Cezar de Castro Rocha
Local: Tenda dos Autores14h30 - Mesa 17 Drummond - o poeta presente: Armando Freitas Filho (em vídeo), Eucanaã Ferraz e Carlito Azevedo Mediação Flávio Moura
Local: Tenda dos Autores16h30 - Mesa 18 Entre fronteiras: Gary Shteyngart e Hanif Kureishi Mediação Ángel Gurría-Quintana
Local: Tenda dos Autores18h15 - Mesa 19 Livro de cabeceira Autores convidados da Flip 2012 leem e comentam trechos de seus livros favoritos.
Local: Tenda dos Autores


FONTE: www.flip.org.br

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