25 de mar. de 2012

A alegria da escrita


Para onde corre essa corça escrita pelo bosque escrito?

Vou beber da água escrita

que lhe copie o focinho como papel-carbono?

Por que ergue a cabeça, será que ouve algo?

Apoiada sobre as quatro patas emprestadas da verdade

sob meus dedos apura o ouvido.

Silêncio–também essa palavra ressoa pelo papel

e afasta

os ramos que a palavra bosque originou (…)

as frases acossantes,

perante as quais não haverá saída (…)

Outras leis, preto no branco aqui vigoram.

Um pestanejar vai durar quanto eu quiser (…)

Existe então um mundo assim

sobre o qual exerço um destino independente?

Um tempo que enlaço com correntes de signos?

Uma existência perene por meu comando?

A alegria da escrita.

O poder de preservar.

A vingança da mão mortal.

(Wislawa Szymborska)

Nenhum comentário:

Postar um comentário