5 de mar. de 2012

A vida na hora

(…) Despreparada para a honra de viver,

mal posso manter o ritmo que a peça impõe.

Improviso embora me repugne a improvisação.

Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas.

Meu jeito de ser cheira a província.

Meus instintos são amadorismo.

O pavor do palco , me explicando, é tanto mais humihante.

As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis.

Nao dá para retirar as palavras e os reflexos,

inacabada a contagem das estrelas,

o caráter como o casaco às pressas abotoado–

eis os efeitos deploráveis desta urgência.

Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes

ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez!

Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço.

Isso é justo–pergunto

(com a voz rouca

porque nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores) (…)

E o que quer que eu faça,

vai se transformar para sempre naquilo que fiz.

(Wislawa Szymborska)

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