(…) Despreparada para a honra de viver,
mal posso manter o ritmo que a peça impõe.
Improviso embora me repugne a improvisação.
Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas.
Meu jeito de ser cheira a província.
Meus instintos são amadorismo.
O pavor do palco , me explicando, é tanto mais humihante.
As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis.
Nao dá para retirar as palavras e os reflexos,
inacabada a contagem das estrelas,
o caráter como o casaco às pressas abotoado–
eis os efeitos deploráveis desta urgência.
Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes
ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez!
Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço.
Isso é justo–pergunto
(com a voz rouca
porque nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores) (…)
E o que quer que eu faça,
vai se transformar para sempre naquilo que fiz.
(Wislawa Szymborska)
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