16 de mai. de 2012

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto, 
desses que tocam trombeta, anunciou: 
vai carregar bandeira. 
Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada.
 Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir. 
Não sou tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza 
e ora sim, ora não, 
creio em parto sem dor. 
Mas o que sinto escrevo. 
Cumpro a sina. 
Inauguro linhagens, fundo reinos -- 
dor não é amargura. 
Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. 
Mulher é desdobrável. 
Eu sou.
 (Adélia Prado)

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